Obras da Copa em ritmo lento

Menos de 30% dos valores foram repassados para projetos de mobilidade urbana, o que já preocupa o TCU.

A Copa das Confederações está chegando, e os transtornos no trânsito e nos aeroportos serão inevitáveis durante o evento que começa no próximo dia 15 em seis capitais: Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Salvador. Como a maioria das obras de mobilidade e nos aeroportos previstas para a Copa do Mundo ainda não estão prontas ou nem sequer começaram, o turista vai ver canteiros de obras por onde passar durante esse “evento teste”. O Tribunal de Contas da União (TCU) alerta para o fato de que menos de um terço dos repasses previstos foram feitos até o momento. 

O ministro do TCU Valmir Campelo demonstra preocupação, principalmente, com os baixos investimentos em obras de mobilidade urbana. “A Caixa Econômica Federal repassou, até o mês passado, menos de 30% do total dos recursos contratados. Também foi pública a informação dos recentes atrasos nos aeroportos. Isso precisa ser acompanhado de perto, até mesmo para viabilizar as estratégias alternativas para bem receber o público no decorrer da Copa”, diz. Ele revela que apenas duas cidades estão mais avançadas: Belo Horizonte e Recife, com quase 45% dos repasses efetuados. 

Especialistas não se surpreendem com esses dados e acreditam que transtornos ocorrerão. “Hoje, há problemas mesmo sem Copa. Com o evento, certamente, haverá complicações. Naquelas cidades em que a mobilidade já é difícil, a situação será pior”, alerta o professor de logística da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), Manoel Reis. Para ele, os aeroportos são os pontos mais críticos, uma vez que por décadas não tiveram os investimentos necessários para atender a demanda. 

As obras de ampliação dos terminais operados pela Infraero em cinco capitais, e também do de Brasília, já privatizado, só serão concluídas no próximo ano. Muitas estão com menos de 20% de realização, apesar de algumas terem sido iniciadas em 2008, como as do Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. A operadora privada de Brasília, a Inframerica, está investindo R$ 900 milhões na ampliação do terminal, com conclusão prevista para 2014. Para a Copa das Confederações, serão feitas pequenas adequações. “Os aeroportos são os pontos mais críticos, e acredito que os do Rio e de Brasília terão maiores problemas”, aposta Reis. 

Passo lento

O Brasil foi confirmado como país sede da Copa em 2007 e, de lá para cá, as melhorias na infraestrutura caminham a passos lentos. De acordo com dados do TCU, dos R$ 25,5 bilhões de investimentos previstos na matriz de responsabilidade da Copa (publicada pela primeira vez em 2010 e atualizada em abril), apenas R$ 5,8 bilhões foram gastos até o mês passado. Ao todo, as cidades sedes têm 53 obras de mobilidade urbana previstas, que deverão ser concluídas até maio de 2014. Logo, os prazos estão cada vez mais curtos, o que poderá comprometer não somente o custo como também a qualidade dos empreendimentos.

As autoridades alegam que, para a Copa das Confederações, houve prazos de entrega apenas para os estádios e que o cronograma da matriz de responsabilidade é válido somente para a Copa do Mundo. O Ministério do Esporte informa que o evento é “uma grande oportunidade de desenvolvimento” e está possibilitando ao país antecipar etapas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “O governo federal reafirma que todas as obras essenciais para a realização da Copa do Mundo ficarão prontas para o evento”, diz o órgão, em nota.

O jogo de abertura do torneio, que começa dia 15 deste mês, será em Brasília. Apesar de sediar apenas uma partida agora, na Copa do Mundo a cidade terá o maior número de jogos: sete. O Distrito Federal garantiu investimentos de R$ 3 bilhões em obras de mobilidade urbana, infraestrutura e segurança. No entanto, fontes do governo do DF reconhecem que o turista que vier para assistir ao embate entre Brasil e Japão, encontrará os mesmos congestionamentos que os moradores enfrentam para chegar ao Aeroporto Juscelino Kubitschek. As obras que atualmente que atrapalham o fluxo de veículos logo no balão da entrada do JK não serão concluídas neste mês. 

Em Belo Horizonte, o turista também verá inúmeros trabalhos pela cidade e no aeroporto, que será leiloado à iniciativa privada em outubro. A capital mineira tem o terceiro maior volume de investimentos previstos na matriz da Copa: R$ 2,5 bilhões, atrás de Rio de Janeiro (R$ 3,9 bilhões) e de São Paulo (R$ 4,5 bilhões).

A Infraero estima que o volume de passageiros nos aeroportos, durante a Copa das Confederações, será menos de 10% maior que o normal e ficará bem abaixo do movimento nas duas semanas do fim do ano, quando a demanda cresce de 15% a 20%. A Secretaria de Aviação Civil (SAC) garante que as equipes dos órgãos públicos nos terminais serão reforçadas em 77%, em média, durante o evento. 

O Ministério do Esporte calcula que serão 600 mil estrangeiros na Copa das Confederações. Já para a Copa do Mundo, são esperados bem mais: 3 milhões. Essas pessoas vão encontrar altos preços de hotéis (alguns 400% mais caros) e poucas opções de transporte público de qualidade nas cidades sedes. Uma pesquisa da SAC revela que 52% dos passageiros de avião utilizam o próprio carro ou táxi para chegar aos aeroportos brasileiros, dada a falta de meios de locomoção de massa, como trens e metrôs, algo comum nos maiores e mais modernos terminais aéreos do mundo. 

A falta de um ramal ferroviário ligando os aeroportos — principal porta de entrada dos turistas — é um dos problemas de mobilidade que precisam ser solucionados com bom planejamento nas principais capitais do país. No entanto, um dos programas do governo federal, o AC Mobilidade, ainda não decolou. 

Independentemente da obrigatoriedade de cumprir prazos para a Copa das Confederações, o governo precisará correr contra o tempo para não se tornar alvo de críticas internas e externas, desde agora até 2014. Caso contrário, as chacotas não ficarão restritas aos nomes equivocados tanto da bola (Cafusa) quanto do mascote (Fuleco), além do fiasco da caxirola (que será proibida nos estádios por determinação do Ministério da Justiça). 

O sucesso dos dois eventos esportivos será importante para recuperar a confiança que o país vem perdendo no campo econômico. Há um descrédito cada vez maior em relação à condução da economia pela presidente Dilma Roussef. “O Brasil não é mais o ‘queridinho’ dos investidores, pois tem um dos piores crescimentos entre os emergentes”, afirma o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Simão Silber. Ele destaca que a desconfiança do investidor vem aumentando devido ao fato de o governo já ter lançado18 pacotes de estímulo e nenhum deles ter surtido efeito na economia, que voltou a decepcionar no primeiro trimestre, com alta de apenas 0,6% no Produto Interno Bruto (PIB).

Ainda no papel

Um levantamento feito pelo Correio no site do Ministério do Planejamento revela que apenas duas das 45 obras previstas no PAC Mobilidade nas seis cidades sedes da Copa das Confederações foram concluídas. Há 27 em andamento, com término até 2014, a um custo de R$ 5,7 bilhões. Ainda há 16 em licitação ou em estágio preparatório para o Regime Diferenciado de Contratação (RDC). É o caso do projeto do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) de Brasília, que estava na matriz de responsabilidade, mas foi retirado devido a questionamentos judiciais, e está paralisado desde setembro de 2010. 

Fonte: Correio Braziliense

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